sábado, 27 de agosto de 2011

Dias sem cor


                Os dias seguem como formigas em trilha, que não se sabe onde exatamente vai dar. Minha vida pede fôlego pra caminhadas sem cor. As pessoas têm perdido a chance de foco nas minhas retinas. Acabei me acostumando a viver num bolero plácido. Onde meus pés não precisam de fato sentir nada alem dos meus próprios sapatos. Passo pela ausência do sentir, como se a minha vida me fosse deixando homeopaticamente. Como se todas as minhas extravagâncias estivessem sendo cobradas e me faltasse vida pra pagar uma divida de quem viveu demais... Sentiu demais... Sorriu demais...
                Nunca quis viver demais, passar anos a fio ver as pessoas seguirem sem mim. Nunca desejei ver meu limitado corpo definhar de tanto oxigênio consumir. Nunca quis que um fim me alcançasse sem que tivesse gastado todos os meus sorrisos e vontades. Nunca quis machucar ninguém de nenhum modo. Não são essas marcas que desejo deixar. Prefiro que meus amados nunca saibam de minha morte. Pra que eu não os cause nenhum tipo de dor, nem lhes gere nenhuma lagrima a mais. Desejo que o mar leve minha casca, ou que o fogo a consuma. Pra que todos sempre lembrem o sarcasmo dos meus olhos abertos, do meu sorriso estendido cheio de intenções, ou das minhas alfinetadas carinhosas.
                Sinto mudanças bobas, felicidades que me cercam... Sinto a segurança de quem viveu bem... De quem aprendeu sua lição. Sinto a dor de quem já amou um mundo particular, criado, planejado e por vontade desse mesmo mundo abandonado. Não tive filhos. Não desejo herdeiros. Embora acredite que a minha herança seja impossível de ser reunida e direcionada numa única forma.
                O que fui o que sou... Está dentro de cada um de vocês que me lêem... Que me conhecem... E aprendem a conviver com uma pessoa por vezes tão complicada, doce e confusa. A vida toda eu busquei ser um mistério, ser intraduzível, ser diferente de todo mundo por vezes tentei não ser humano. Fugir dessas falhas tão equivocadas. Eu tentava manter uma “ INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER”...  Acredito não ter nem chegado perto do que Kundera me propôs. Hoje essa minha falha deixa meu coração mais mole do que nunca. Meus olhos às vezes chorosos e meu peito sempre vazio.
                Sei que mudanças regem meu mundo... mas que essas sejam menos drásticas...

Tenho um lindo coração ferido de amor... obrigado!!!

                                                                           camillu borges