Passei anos
da minha vida tentando preencher um buraco que pensei ser sem fim. Buscando coisas
e às vezes pessoas com características únicas. Coisas, que pensei, serem
diferentes o suficiente para me ressaltar da multidão. Percorri tantos e tão
tortuosos caminhos sempre a beira de penhascos. Penhascos estes que muitas
vezes não eram fundos o suficiente ao meu coração. E eu num desespero quase
forçado os aprofundei com alguns poucos olhares.
O risco é que
agora, perto de um fim quase eminente, que eu venha a perceber que este vazio
nunca existiu. É perceber que o espelho vazio assemelha-se ao infinito. E que
talvez o infinito seja a única coisa que acomode alguns dos meus traços... Não
que eu seja algo tão importante, mas sei que sou simples, que anseio por
simplicidade, poucos detalhes e longas e sinuosas linhas de um caminho que eu
mesmo programei, ou acredito ter programado.
A decepção
de estar sempre em completo transbordo é que não existe mais busca. É que se
houver alguma busca, ela difere-se de tudo o que conheces. Que este caminho sem
rugas, com poucas lágrimas e longos anos de sol com poucas nuvens e muito azul,
fazem parte de outra época de sua vida. De uma época em que tudo era estranho,
pois sabia que aquilo era bom e que iria acabar. É estranho não sentir saudades
mesmo assim.
Em que
confusão me coloquei desta vez?
Qual porto
deve atracar?
Quais cordas
me manterão neste porto?
Quais rotas
serão tomadas, se o mar é desconhecido?
Qual realidade
eu terei de criar?
Entendo que
meus sorrisos apenas dependem de mim...
Que apenas meus pés me
levaram pelo caminho...
Que independente de onde se
encontre a beleza,
meus olhos
devem permanecer no horizonte...
Que tudo depende de mim...
E talvez
entenda que por tudo depender tanto de mim apenas, que meu caminho tenha ou
venha ser solitário. Como alguém que observa o mundo de fora. Que entende e
enxerga coisas em detalhes perdidos. Só estou depressivo, não sou assim. Sou um
reduto do otimismo, mas o pescoço às vezes cansa e o que é me resta olhar pra
baixo... E quem sabe assim eu possa perceber mais os meus passos. Guiar-me como
guiaria tantos outros...
É chegada a
hora de novos caminhos e novos rumos... Novos objetivos, mas quais?