quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CORTIZOL



Passei anos da minha vida tentando preencher um buraco que pensei ser sem fim. Buscando coisas e às vezes pessoas com características únicas. Coisas, que pensei, serem diferentes o suficiente para me ressaltar da multidão. Percorri tantos e tão tortuosos caminhos sempre a beira de penhascos. Penhascos estes que muitas vezes não eram fundos o suficiente ao meu coração. E eu num desespero quase forçado os aprofundei com alguns poucos olhares.
O risco é que agora, perto de um fim quase eminente, que eu venha a perceber que este vazio nunca existiu. É perceber que o espelho vazio assemelha-se ao infinito. E que talvez o infinito seja a única coisa que acomode alguns dos meus traços... Não que eu seja algo tão importante, mas sei que sou simples, que anseio por simplicidade, poucos detalhes e longas e sinuosas linhas de um caminho que eu mesmo programei, ou acredito ter programado.
A decepção de estar sempre em completo transbordo é que não existe mais busca. É que se houver alguma busca, ela difere-se de tudo o que conheces. Que este caminho sem rugas, com poucas lágrimas e longos anos de sol com poucas nuvens e muito azul, fazem parte de outra época de sua vida. De uma época em que tudo era estranho, pois sabia que aquilo era bom e que iria acabar. É estranho não sentir saudades mesmo assim.

Em que confusão me coloquei desta vez?
Qual porto deve atracar?
Quais cordas me manterão neste porto?
Quais rotas serão tomadas, se o mar é desconhecido?
Qual realidade eu terei de criar?

Entendo que meus sorrisos apenas dependem de mim...
                   Que apenas meus pés me levaram pelo caminho...
                   Que independente de onde se encontre a beleza,
meus olhos devem permanecer no horizonte...
                   Que tudo depende de mim...

E talvez entenda que por tudo depender tanto de mim apenas, que meu caminho tenha ou venha ser solitário. Como alguém que observa o mundo de fora. Que entende e enxerga coisas em detalhes perdidos. Só estou depressivo, não sou assim. Sou um reduto do otimismo, mas o pescoço às vezes cansa e o que é me resta olhar pra baixo... E quem sabe assim eu possa perceber mais os meus passos. Guiar-me como guiaria tantos outros...
É chegada a hora de novos caminhos e novos rumos... Novos objetivos, mas quais?