sábado, 2 de novembro de 2013

OUTGOING - Manoel

"Era expansivo. Essa foi a maneira que encontrou de  manter-se a salvo. O problema, as vezes, acontece quando essa barreira fica fina ou expeça demais"
       Manoel era um garoto de pensamentos simples. Seu problema começaria quando a Rotina, professora dura e quase implacável, chegasse à sua vida. O que este pobre e rude garoto poderia fazer contra uma força descomunal? Não poderia ser mais óbvio. Ele poderia continuar a ser simples e docemente rude. O problema que deveria ter sido reduzido quando a puberdade chegou, em suma, foi multiplicado. Manoel tinha muitas borboletas no bolso da bermuda e nada tediosos maquinadores macaquinhos no sotão inventado. 
        Se me lembro bem Manoel disse "EU TE AMO" algumas vezes na vida, muitas delas em silêncio. A maioria para sua mãe, outras disse à garotas, garotos... e quase sempre sem palavras. Pobre garoto rude, sabia como era sangrar, conhecia e teorizava seus amores de cobre. Enlouquecia, vez por outra a si, vez ou outra seus coadjuvantes, mocinhos e para fugir da rotina donzelas perdidas em draconinas mãos. Gostava de montar em seu cavalo cinza e roubar alguns príncipes de latão.
         Tinha um certo gosto violento por gargalhadas, ria muito sempre por pouco, não ficava feliz o tempo todo e sempre que podia mostrava alguns poucos e potentes espinhos... A grande verdade, ele mesmo conhecia. Seus sentimentos pareciam perecíveis demais. Mesmo que não fossem, ele não chegaria a conhecer alguém disposto a ser maltrado por tempo suficiente para que ele, coitado, pudesse florescer. 
         Poderia ser engraçado, se ele mesmo não tivesse tanto medo de si e do que poderia ser capaz de fazer. Amar nunca foi um problema, mas ele estava mais interessado em ser cobiçado do que em qualquer outra coisa. Das pessoas que passaram pela minha vida, nunca vi alguém com tão pouco carisma chamar tanta atenção. O que ele emanava era algo diferente e quase hipnótico, ou pelo menos, ele acreditava nisso. O que mais me diverte nisso tudo são todas essas pobres criaturas que acreditam na eternidade de quem sente e vive como fragrâncias. 
          
          -Vamos embora Manoel... Um dia a eternidade te alcança...


Editado por Gabriela Zoca